16/11/2011

Carlos: muito trabalho e alguns sonhos

Adriele Moreno

Fotos: Alan Tiago
Carlos Soares Marinho tem 41 anos, 12 deles dedicados à profissão de gari e varredor de rua. Ele nasceu em Salvador, em 1970. Desde os primeiros anos de vida, Carlos diz que viu muita coisa mudar na cidade. Passou a infância com a família no bairro de Caixa d’água. “Foi lá onde nasci e fui criado com meus oito irmãos”, lembra.


Enquanto fala sobre sua vida, suas histórias, sonhos e objetivos, Carlos continua seu trabalho. Camisa, calça e boné vermelhos. Bota preta nos pés. Em uma das mãos, uma pá; em outra, a vassoura. Em movimentos rápidos, de alguém já acostumado à função, vai varrendo e amontoando os entulhos que vê pela frente espalhados no caminho. Em pouco tempo, o carrinho de lixo já está quase cheio. Para ele, o sol quente não é problema. Continua concentrado. De vez em quando ensaia uma pose para a nossa câmera, atenta em captar todos os movimentos do rapaz. De vez em quando, ensaia um sorriso.


Antes de começar a trabalhar na feira de São Joaquim, Carlos conta que também já passou pelos bairros de Brotas e Comércio. Entre muitas das atividades que exerceu, lembra da época em que era arquivista, sendo responsável pela organização, reunião e preservação de documentos para a empresa Consul.

Atualmente, ele trabalha para uma empresa que presta serviços de limpeza urbana para a cidade de Salvador. Contudo, não esconde a insatisfação: “fico triste por trabalhar como gari e varredor”, confessa. O rapaz sente saudades dos tempos em que exercia outras profissões. “Eu gostava mesmo era quando trabalhava como vendedor e recepcionista, mas quem sabe, algum dia, eu volte a trabalhar com isso?”

Apesar de tudo, Carlos diz que é feliz com a vida que tem, sobretudo ao falar da filha de seis anos. “Tenho minha própria família, tenho minha esposa, com quem sou casado há seis anos, e minha filha, que amo muito”. O moço humilde também não esconde suas pretensões e revela seu grande sonho: “estudei até concluir o primeiro grau, mas, se tivesse a oportunidade, gostaria de fazer uma faculdade de medicina”.


Bem, parece que Carlos acabou a limpeza naquele local. Está pronto para ir a outro ponto. “E então, mais alguma pergunta?”, questiona ele à nossa equipe. Respondemos que não. Era o suficiente. Com outro sorriso, ele se despede. Vai agora conduzindo o carrinho de lixo a outro ponto da feira de São Joaquim. Para nós, a atividade de mostrar um pouco sobre a vida de uma pessoa desconhecida acaba; para Carlos, a vida continua a escrever linhas dessa história de humildade, trabalho e sonhos.

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